Residentes em Oncologia

Equipe Grano

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O câncer de próstata representa 29% de todos os casos de câncer no sexo masculino no Brasil, com aproximadamente 66 mil novos diagnósticos e quase 16 mil mortes por ano, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). A doença é responsável por 10% das mortes em pacientes homens no País. No mundo, é o quarto tipo de câncer mais incidente, representando 7,3% do total de novos casos, atrás dos cânceres de pulmão (12,4%), mama (11,6%), colorretal (9,6%), e à frente de câncer de estômago (4,9%).

Na maioria dos casos, a doença apresenta evolução lenta e bons índices de controle quando diagnosticado precocemente. A realidade dos tratamentos tem passado por transformações significativas — especialmente nos casos mais avançados. Segundo o diretor da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Dr. André Deeke Sasse, a doença metastática é sensível à hormonoterapia, com prognóstico razoavelmente bom, expectativas de respostas de longa duração. Ele ressalva que o tratamento é permanente.

No geral, pacientes têm uma expectativa de vida longa. Quase sempre, isso significa alguns anos de controle da doença com tratamentos que interferem pouco na qualidade de vida, mas necessitam logicamente de uma avaliação intensa, em especial no começo do tratamento para verificar se a estratégia está funcionando”, diz o diretor da SBOC. “Monitorização e controle no curto prazo são muito importantes.”

Dr. Sasse explica que as células do câncer de próstata geralmente são sensíveis à testosterona. A testosterona funciona como um combustível, que sinaliza que a célula deve crescer e proliferar. “Nessa fase, realizamos um tratamento que diminui a testosterona do homem, chamado de supressão hormonal. É um medicamento que faz os níveis no sangue da testosterona caírem”, explica.

“Os tratamentos são menos agressivos e a doença é controlável por mais tempo, diferentemente de quando é necessária a utilização de quimioterapia ou terapias mais agressivas.” Muitas vezes, a terapia é associada a outros tratamentos hormonais, como inibidores da produção de testosterona ou um inibidor do receptor de testosterona das células. “O objetivo é atingir as células que são dependentes de testosterona. Os efeitos colaterais são brandos, com poucos efeitos colaterais esperados, resposta imediata e expectativa de controle da doença.

 

Prevenção e diagnóstico precoce

O panorama global apresenta desafios. Em muitos países, o diagnóstico ainda ocorre em fases avançadas, e há desigualdades marcantes no acesso a tratamentos modernos. No Brasil, a heterogeneidade do sistema de saúde e a falta de rastreamento organizado dificultam a detecção precoce, especialmente nas regiões mais vulneráveis.

O especialista enfatiza que, se diagnosticada precocemente com exames periódicos preventivos como o toque retal – procedimento que dura sete segundos —, a doença tem mais de 90% de chances de cura, geralmente com cirurgia ou radioterapia. Um dos principais obstáculos na prevenção e detecção desse tumor, e de outros que afetam apenas a população do gênero masculino, é exatamente a falta de informação e, em muitos casos, o preconceito.

“A mensagem mais importante é que os exames de rastreio são uma ferramenta poderosa para o diagnóstico precoce e que o câncer de próstata tem tratamento e controle. Cada vez mais, a ciência aponta para caminhos mais eficazes e personalizados na linha de cuidado.”

 

Novas estratégias

Sasse comenta a chamada desintensificação terapêutica. A estratégia propõe regimes menos agressivos para determinados pacientes com câncer de próstata avançado, sem comprometer os resultados clínicos. “Estamos vivendo uma era de personalização do cuidado. A hormonoterapia intermitente, por exemplo, permite que o paciente faça pausas no tratamento, o que pode reduzir efeitos colaterais e preservar sua qualidade de vida”, explica.

Segundo o oncologista, essa abordagem já é respaldada por estudos internacionais e começa a ganhar força no Brasil. Pesquisas como o ensaio EORTC 2238 De-Escalate, publicado na revista Frontiers in Oncology, apontam que estratégias como a terapia hormonal em ciclos podem manter o controle da doença com menor impacto na saúde geral dos pacientes. “Essa ‘desintoxicação’ periódica do tratamento pode também ter reflexos positivos em custos e adesão”, acrescenta Dr. Sasse.

 

Evolução dos fármacos

Além da desintensificação, novas drogas e tecnologias estão ampliando o arsenal terapêutico. Nos últimos anos, o tratamento do câncer de próstata avançado passou por uma evolução, com a chegada de terapias mais individualizadas, que agem de forma direcionada às características biológicas do tumor.

Entre essas inovações estão os radiofármacos, como o Radium-223 e o Lutécio-177-PSMA, que combina a especificidade de um alvo molecular com a capacidade de destruir células tumorais por meio da radiação. Estudos como o VISION Trial, publicado no New England Journal of Medicine, demonstraram benefícios importantes em sobrevida e qualidade de vida com esse tipo de estratégia em pacientes que falharam a terapias hormonais.

Outro avanço relevante envolve o uso de terapias-alvo baseadas em biomarcadores genéticos, como mutações em genes de reparo de DNA, especialmente BRCA1 e BRCA2. Nessas situações, medicamentos como os inibidores de PARP (como olaparibe e rucaparibe) têm mostrado impacto em controle de doença e de sintomas, e estão hoje aprovados em diversos países, inclusive no Brasil, para um subgrupo de pacientes com doença metastática e alterações genéticas específicas.Esses tratamentos representam um novo paradigma, e entender o perfil molecular do tumor se tornou essencial para oferecer terapias mais eficazes, com menos efeitos colaterais e potencial de ganho real em expectativa de vida. Para isso, testes genéticos e acesso a plataformas de diagnóstico molecular tornaram-se ferramentas centrais na personalização do cuidado.

“A SBOC defende políticas públicas que ampliem o acesso a exames, à biópsia e ao tratamento oncológico de qualidade, com foco na equidade. Além disso, é urgente fortalecer a formação dos profissionais da atenção primária, que estão na linha de frente do diagnóstico precoce”, ressalta o oncologista. “Chamamos atenção para a  importância da vigilância constante e do diagnóstico precoce. Ao mesmo tempo, reforçamos o debate global sobre como podemos tratar o câncer de próstata com mais eficácia e menos toxicidade.”

O Jornal da Record trouxe dados alarmantes sobre o cumprimento da chamada “Lei dos 60 dias” (Lei nº 12.732/2012), que garante ao paciente com câncer o direito de iniciar o tratamento pelo SUS em até dois meses após o diagnóstico. Segundo dados apurados pela reportagem, apenas 26% dos pacientes oncológicos no Brasil conseguem iniciar o tratamento dentro do prazo determinado por lei.

Em entrevista para o Jornal da Record, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) alerta que a demora no acesso ao tratamento reduz as chances de cura e agrava a evolução da doença. Estima-se que 15% dos pacientes morrem quando o tratamento demora mais de 60 dias para ser iniciado. “O paciente muitas vezes vai precisar de tratamentos mais agressivos, tratamentos de maior morbidade, tratamentos com menor índice de cura e tratamentos mais caros para o governo”, complementa a Presidente da SBOC, Dra. Angélica Nogueira.

Além do impacto humano e social, a demora acarreta também impactos econômicos para o sistema público de saúde. Pacientes que poderiam ter tratamento mais simples e eficaz acabam necessitando de terapias mais complexas e, consequentemente, mais caras.

A SBOC reforça a urgência de políticas públicas que garantam a implementação efetiva da Lei dos 60 dias, com mais investimentos em diagnóstico precoce, estrutura hospitalar e logística de encaminhamento dos pacientes, a fim de garantir o acesso rápido e digno ao tratamento oncológico.

Leia na íntegra.

Sarcopenia e câncer

Podcasts Sexta, 23 Maio 2025 16:22

Neste episódio, a coordenadora do Comitê Multiprofissional da SBOC, Dra. Andrea Pereira, a coordenadora do Comitê de Cuidados em Sobreviventes, Dra. Luciana Landeiro, e a coordenadora do Comitê de Oncogeriatria, Dra. Ludmila Koch, exploram a relação entre sarcopenia e câncer.

O recente diagnóstico de câncer de próstata do ex-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reacendeu discussões sobre prevenção e tratamento dessa doença, que é a mais comum entre os homens no Brasil. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), são registrados cerca de 66 mil novos casos e quase 16 mil mortes por ano no país. A maioria dos casos apresenta evolução lenta e bons índices de controle quando diagnosticados precocemente. Entretanto, nos casos avançados, como o de Biden, que anunciou ter metástase óssea, os tratamentos têm passado por transformações significativas. Em entrevista a IstoÉ, o diretor da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Dr. André Sasse, destaca que “a doença metastática é sensível à hormonioterapia, com prognóstico razoavelmente bom, expectativas de respostas de longa duração”.

Dr. Sasse explica que, nesses casos, o tratamento é permanente e requer monitoramento constante para avaliar a eficácia da estratégia adotada. Ele ressalta: “Não podemos comentar especificamente o prognóstico do ex-presidente John Biden, porque não temos acesso aos detalhes, como biópsia e o quadro clínico. No geral, pacientes têm uma expectativa de vida longa. Quase sempre, isso significa alguns anos de controle da doença com tratamentos que interferem pouco na qualidade de vida, mas necessitam logicamente de uma avaliação intensa, em especial no começo do tratamento para verificar se a estratégia está funcionando”. Além disso, o especialista destaca que a testosterona funciona como um combustível para as células do câncer de próstata, e que o tratamento visa diminuir seus níveis no sangue, utilizando medicamentos que reduzem a testosterona, tornando os tratamentos menos agressivos e a doença controlável por mais tempo.

Leia a íntegra no site da IstoÉ.

A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) promove, até 3 de junho, a Consulta Pública (CP) Nº 32.

A tecnologia avaliada é:

Nivolumabe como tratamento adjuvante

Indicação: para pacientes adultos com diagnóstico confirmado de carcinoma de esôfago após tratamento trimodal (quimioterapia, radioterapia e cirurgia)

A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) promove, até 3 de junho, a Consulta Pública (CP) Nº 31.

A tecnologia avaliada é:

Nivolumabe e pembrolizumabe

Indicação: tratamento de primeira linha do carcinoma de esôfago avançado ou metastático em pacientes com maior expressão de PD-L1

Uma pesquisa inédita da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) expôs um panorama alarmante de desigualdade de gênero e violência no ambiente de trabalho: 50,3% das mulheres oncologistas ouvidas relataram já ter sofrido assédio moral, enquanto 24,7% afirmaram ter sido vítimas de assédio sexual. Entre os homens, esses índices foram de 21,4% e 7,1%, respectivamente.

O estudo, publicado em 23 de abril no periódico científico JCO Global Oncology, contou com a participação de 202 médicos oncologistas e outros profissionais da saúde que atuam na área, sendo 146 mulheres e 56 homens.

Embora mulheres sejam maioria nas escolas de medicina e estejam cada vez mais presentes na oncologia, elas ainda ocupam menos cargos de liderança, ganham menos e enfrentam mais obstáculos para progredir na carreira, indica o estudo.

“Os dados mostram uma disparidade expressiva e a urgência de políticas públicas e institucionais para transformar esse cenário”, afirma a primeira autora da pesquisa, Dra. Daniele Assad Suzuki, que também é oncologista clínica e membro da diretoria da SBOC.

O levantamento mostra, por exemplo, que apenas 13,7% das mulheres ouvidas ocupam cargos de chefia em departamentos de oncologia, contra 30,4% dos homens. A percepção de equidade também difere: enquanto 87,5% dos homens acreditam que há igualdade de direitos no trabalho, apenas 65,5% das mulheres compartilham dessa visão.

A maioria das mulheres (85,1%) defende a criação de políticas específicas para promover igualdade de gênero nos ambientes oncológicos. Entre os homens, esse número cai para 60,8%.

Para a Presidente da SBOC, Dra. Angélica Nogueira, o cenário exige ações estruturais. “Precisamos de metas claras: aumentar a presença feminina em cargos de chefia, garantir representatividade nos espaços de decisão e combater o assédio com medidas firmes e canais de denúncia eficazes”, afirma.

A SBOC propõe como metas elevar para 40% a participação feminina na liderança da oncologia e estabelecer programas de mentoria, capacitação e combate ao assédio. A Sociedade também sugere a inclusão de treinamentos obrigatórios sobre vieses inconscientes e ética nas residências médicas.

“Sem equidade e segurança, não há excelência possível no cuidado com os pacientes nem melhores condições laborais no ambiente médico”, conclui Dra. Suzuki.

Reportagem da Folha de S.Paulo desta segunda-feira (12) destaca os dados do estudo da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), publicado na revista científica JCO Global Oncology, que revela a experiência de discriminação de gênero vivida por médicas oncologistas no Brasil. Segundo o levantamento, 55,5% das mulheres entrevistadas relataram ter sofrido discriminação ao longo da carreira – número muito superior ao dos homens (1,8%). Além disso, 33% das mulheres disseram enfrentar mais dificuldades para conciliar a carreira com a maternidade, frente a 28% dos homens.

O estudo também aponta que 24,9% passaram por assédio sexual, em contraste com 7% dos homens. A Presidente da SBOC, Dra. Angélica Nogueira, destaca que os dados confirmam desigualdades que impactam a formação e ascensão profissional das mulheres na oncologia. A SBOC prepara agora uma série de ações para promover mais equidade de gênero na especialidade. “Queremos ampliar o espaço para mais mulheres na formação da área médica, então produzimos esse levantamento. E, neste ano, estamos preparando workshops e estágios de mentoria com mulheres em comando”, afirma Dra. Angélica Nogueira. “Foi um estudo inédito e, com os dados em mãos, a persistência é não deixar isso morrer. É um ponto de partida para avançarmos.”

Leia a reportagem na íntegra.

Pacientes com câncer, como a cantora Preta Gil, têm buscado tratamento nos EUA devido à maior oferta de terapias inovadoras e ensaios clínicos. A reportagem aponta que, no Brasil, o acesso a novos medicamentos e a protocolos de pesquisa enfrentam entraves como demora na aprovação, exclusão do rol do SUS e baixa disponibilidade para ensaios clínicos.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, a Presidente da SBOC, Dra. Angélica Nogueira, afirmou: “Quando os tratamentos eram mais simples, duas décadas atrás, havia um certo alinhamento entre o público e o privado, mas com essa revolução de novas tecnologias, principalmente novos medicamentos —drogas alvo direcionadas, imunoterapia e ADC [conjugados anticorpo-fármaco]— , a distância aumentou. Nos últimos 20 anos a maioria absoluta dos medicamentos aprovados pela Anvisa no Brasil não entrou no sistema público".

Leia reportagem na íntegra.

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) promove, até 3 de junho, a Consulta Pública (CP) Nº 155, recebendo contribuições para as recomendações preliminares relacionadas às propostas de atualização do Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde.

A tecnologia avaliada em oncologia é:

Selpercatinibe

Indicação: tratamento de pacientes adultos e pediátricos com carcinoma medular de tireoide avançado ou metastático RET positivo (RET+)