Notícias

Com participação da SBOC, fórum organizado pelo Estadão discute caminhos possíveis para prevenção e controle do câncer no Brasil

Notícias Quinta, 31 Julho 2025 20:29

O grupo de comunicação O Estado de S.Paulo realizou nesta quinta-feira (31), na cidade de São Paulo, a 5ª edição do Retratos do Câncer - evento que reúne especialistas para discutir caminhos possíveis para enfrentar essa doença.  A Presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Dra. Angélica Nogueira, participou da mesa de abertura, que discutiu “Prevenção, diagnóstico e tratamento no Brasil: avanços, desafios e sustentabilidade.”

Mediada pela jornalista Thaís Manarini, editora de Saúde e Bem-estar do Estadão, a mesa contou também com as presenças da coordenadora do Comitê de Tumores Ginecológicos da Sociedade e Chefe da Divisão de Pesquisa Clínica e Desenvolvimento Tecnológico do INCA, Dra. Andréia Melo; da chefe do Laboratório de Inovação em Câncer do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), Dra. Luisa Villa; e do diretor médico do A.C.Camargo Câncer Center, Dr. Antônio Antonietto.

Em conjunto, os especialistas exploraram os principais obstáculos e possíveis soluções para a oncologia no Brasil, com um foco particular em medidas preventivas e políticas públicas. A conscientização da população em relação aos fatores de risco para o desenvolvimento do câncer ganhou destaque, com os médicos lembrando que medidas simples de cuidados diários e bons hábitos podem reduzir significativamente as chances do surgimento de neoplasias.

Dra. Angélica Nogueira usou como exemplo os tumores de pele, os mais comuns ao redor mundo, mas que podem ser prevenidos na maioria dos casos a partir do uso regular e correto do protetor solar – prática com baixa adesão entre a população do Brasil, país com alta exposição à irradiação solar.

A presidente da SBOC alertou que, apesar dos avanços, mais de 50% da população adulta brasileira está acima do peso, e 20% é obesa – condição que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), aumenta o risco para pelo menos 13 tipos de câncer. “A OMS tem demostrado também que não há quantidade segura de consumo de álcool. Assim, qualquer dose consumida aumenta o risco de o câncer surgir”, comento.

A Presidente da SBOC também dedicou atenção especial à importância da vacinação, especialmente contra o Papilomavírus Humano (HPV), principal causador do câncer de colo do útero. “Essa é uma doença controlada em países de alta renda, mas é a terceira causa de casos de câncer entre mulheres brasileiras”, explicou.

Ela lembrou da alta adesão à vacina quando, em 2014, houve aplicação nas escolas, alcançando mais de 90% das meninas brasileiras, celebrando recente decisão do Ministério da Saúde, tomada em 2024, de retomar a vacinação em escolas.

Questionada sobre uma possível resistência da população às vacinas, em um cenário pós-pandêmico, Dra. Angélica Nogueira citou uma tese recém-defendida por sua doutoranda Dra. Lygia Soares – associada SBOC em Natal (RN). O estudo, realizado com 2 mil brasileiros de todas as regiões não demonstrou associação entre pandemia e piora da resistência vacinal. 

“A conclusão dos dados é que o brasileiro é aberto à imunização. Claro que há nichos de resistência que fazem barulho, mas se tivermos decisões políticas adequadas de colocar a vacina certa no lugar certo, acredito que a cobertura vacinal atingirá a maioria da população”, analisou a Presidente da SBOC.

 

Acesso, diagnóstico e barreiras 

O acesso ao diagnóstico e ao tratamento do câncer foi outro ponto crucial do debate. Dra. Andréia Melo explicou que a jornada do paciente, a depender do tumor, é composta por fases de complexidade crescente, desde o rastreamento – com exames como mamografia e pesquisa de HPV-DNA – até, possivelmente, a biópsia e o início do tratamento. Etapas que podem tornar difícil o acesso de um paciente.

Nesse sentido, ela destacou que a falta de equipamentos e profissionais em todo o vasto território nacional é uma questão que precisa ser resolvida por meio de políticas públicas. A oncologista clínica enfatizou a necessidade de usar os dados existentes para que cada localidade desenvolva uma forma de cobrir sua área. 

A Dra. Angélica Nogueira aproveitou a discussão para trazer uma visão otimista para o futuro, mostrando como o desenvolvimento tecnológico pode ser uma aliada para superar barreiras de acesso e geográficas.

“Entramos em uma nova era com a inteligência artificial e novas tecnologias. Que a gente não subestime o poder transformador dessas ferramentas”, disse. “Hoje, a coleta de um material pode ser realizada localmente, mas o laudo pode ser feito centralmente, este é um movimento que o Ministério da Saúde já está fazendo”, completou.

A especialista adicionou, ainda, uma nova esperança para o futuro: a biópsia líquida, que tem potencial de diminuir a complexidade de exames na jornada do paciente. “Vamos entrar, se nos organizamos e usarmos bem os recursos, em um cenário melhor nas próximas décadas”, concluiu.

5.jpeg

Pesquisar