A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) participou nesta quinta-feira (18), último dia do 12° Congresso Todos Juntos Contra o Câncer (TJCC), em um debate sobre “Do advocacy à prática: fortalecendo associações de pacientes e superando barreiras no acesso às inovações”, que abordou as barreiras no sistema de saúde, os impactos para pacientes e oncologistas e os caminhos possíveis para superá-las.
Um dos pontos centrais discutidos foi o tempo que leva desde o registro de um medicamento pela Anvisa até sua incorporação pelo sistema público, passando pela análise da Conitec, criação de protocolos, financiamento, aquisição e dispensação. Esses processos frequentemente causam atrasos significativos na disponibilização de terapias para pacientes oncológicos.
A Diretora-Executiva da SBOC, Dra. Marisa Madi comentou sobre os impactos desses atrasos para os médicos. “Os maiores desafios apontados pelos oncologistas estão relacionados ao acesso a medicamentos, o principal instrumento de trabalho desses profissionais”, algo que foi destacado pelo Censo de Oncologia Clínica da SBOC. “Saber que uma terapia está aprovada, mas não disponível, gera frustração e limita o cuidado que podem oferecer aos pacientes”, apontou.
Para enfrentar essas lacunas, a SBOC desenvolveu o Índice de Priorização de Medicamentos. “Esse índice, publicado pela primeira vez em dezembro de 2024 e revisado em julho de 2025 após críticas e sugestões, define prioridades com base em evidência clínica robusta, necessidades não atendidas, inclusão em listas da OMS, custo-efetividade e impacto orçamentário”, explicou Dra. Marisa.
O índice utiliza o score da ESMO como referência, e seu princípio central é o benefício clínico para o paciente. Ele estabelece regras de pontuação, priorização e direcionamento, orientando a atuação da SBOC no processo de incorporação de novas tecnologias e contribuindo para decisões mais consistentes e fundamentadas.
O Representante Regional do Sudeste da SBOC, Dr. Pedro Uson, trouxe exemplos de tecnologias já incorporadas, mas que, ainda se encontram indisponíveis, como a imunoterapia pembrolizumabe. “A aprovação do medicamento foi em 2020 e, mesmo com acesso favorável, 40% dos pacientes não têm acesso. Ou seja, aprovado ou não, na prática isso muitas vezes é indiferente.”
A Presidente e Fundadora do Oncoguia, Luciana Holtz, apontou que muitos medicamentos incorporados não chegam a pacientes com doença em fases avançadas, mesmo já autorizados pela Conitec. Segundo ela, “isso aponta falhas estruturais nas políticas oncológicas. Estamos lidando com o efeito, e não com a causa”. Luciana ressaltou que o tipo de câncer que o paciente tem e o local onde reside ainda podem determinar o tipo de acesso que ele irá receber.
Na mesa, também participaram a jornalista especialista em saúde, Fabiana Cambricoli, o Diretor Médico da biofarmacêutica global Bristol-Myers Squibb, Dr. Roger Miyake, e a Diretora de Acesso ao Mercado da Interfarma, Helaine Capucho.