Multiprofissional

Equipe Grano

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Por Maria Clara Rodrigues e Islania Brandão Barbosa

A revolução científica ocorrida a partir de meados do século XX impactou profundamente o setor da saúde, incluindo a Oncologia. Desde então, esforços têm sido dedicados ao desenvolvimento e aprimoramento das práticas de prevenção, triagem, diagnóstico, tratamento e reabilitação oncológica, culminando no cenário atual. A demanda por tratamentos inovadores e eficazes tem crescido à medida que a sociedade avança e reivindica seus direitos, especialmente o direito à saúde integral. Contudo, persistem lacunas e desafios que precisam ser superados para que todos os atores envolvidos — pacientes, profissionais de saúde, governos, prestadores de serviço e operadoras de saúde — possam participar de uma equação que se torna cada vez mais onerosa.

Na Oncologia, o acesso a medicamentos ocupa um lugar central. Trata-se de uma área sensível, em que o impacto de terapias potencialmente capazes de prolongar a vida do paciente é inegável. No entanto, a realidade está longe de ser ideal. Há uma disparidade gritante entre o acesso proporcionado pelos sistemas público e privado, com o último enfrentando pressões financeiras crescentes. Enquanto antineoplásicos convencionais causavam diversos eventos adversos severos, as terapias imunológicas e celulares mais recentes oferecem tratamentos mais direcionados e eficazes, melhorando a qualidade de vida dos pacientes. De acordo com o IQVIA Institute for Human Data Science, os custos globais com terapias oncológicas atingiram US$ 223 bilhões em 2023 e a previsão é que cheguem a US$ 409 bilhões até 2028​. Além disso, novos tratamentos, como terapias celulares e genéticas, conjugados de anticorpos e terapias com radioligantes, têm ganhado espaço significativo, representando cerca de 25% dos ensaios clínicos em 2023. Esses tratamentos inovadores são mais precisos, mas sua adoção global é desigual devido a variações nos testes de biomarcadores e na capacidade de infraestrutura para entregar essas terapias avançadas¹.

Nesse cenário, questiona-se: apenas o acesso a esses tratamentos inovadores é suficiente? Estudos apontam que o valor em saúde deve ser apreciado de forma mais ampla, incluindo dimensões clínicas, sociais, organizacionais e econômicas. A Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) surge como uma ferramenta sistemática e multiprofissional que almeja, através de ferramentas próprias, estabelecer as implicações diretas e indiretas de uma ferramenta aplicada à saúde². As metodologias para essa avaliação podem se adequar a diversos propósitos e categorias, desde um folheto informativo para educação ao paciente até um equipamento para cirurgia robótica. Contudo, diante da urgência em equilibrar essa balança, notoriamente os medicamentos assumem destaque.

 Embora as análises farmacoeconômicas não doutrinem a utilização das tecnologias, elas oferecem subsídios para o entendimento da sua possibilidade de incorporação e sustentabilidade. Habitualmente, a análise de custo-efetividade é a mais utilizada. Enquanto os modelos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de novos medicamentos vislumbram a projeção de tecnologias que ofereçam melhores resultados clínicos, por outro lado, o lançamento de novas tecnologias na Oncologia movimenta os players em busca de negociações que sejam minimamente favoráveis às operações, visto que os modelos de remuneração estão cada vez mais estreitos. Assim, a análise de custo-efetividade compara tecnologias e resulta na razão de custo-efetividade incremental (RCEI), de modo que esse fator tende a nortear ações e prioridades no uso de tecnologias com custos e desfechos distintos. Ainda existem algumas limitações, incluindo a necessidade de explorar mais a qualidade de vida como um desfecho, tão discutida na entrega de valor em saúde. Outro desafio também seria definir um limite custo-efetividade, ainda inexistente no Brasil3.

Apesar de a ATS ter sido pensada inicialmente, em todo o mundo, como uma forma de delinear o processo de análise das novas tecnologias e gerenciar as incorporações no serviço público, que historicamente sempre lidou com a escassez de recursos4,5, essa atividade se adequa perfeitamente ao contexto do cenário privado, que discute cada vez mais essa prática. Contudo, as metodologias comumente utilizadas ainda precisam alcançar as particularidades nessa esfera. Sendo assim, algumas adaptações tendem a ser realizadas para atender aos serviços privados que, individualmente, possuem características únicas. 

Na ausência de uma homogeneidade metodológica, o farmacêutico surge com um papel de destaque por se tratar de um profissional que compreende as nuances dos medicamentos. A base técnico-científica deste profissional tende a agregar as propostas e os métodos adotados para integrar as informações de diversos times de uma empresa e gerar valor em saúde. O simples entendimento das informações de estabilidade de um medicamento, do prazo de validade de um frasco com comprimidos após aberto ou da possibilidade de fracionamento de uma forma farmacêutica contribuem para que processos ocorram com cautela, da melhor forma possível e evitando desperdícios que impactarão diretamente nos resultados de toda uma empresa.

Ademais, as competências técnicas do profissional farmacêutico na avaliação de novas tecnologias vão além do conhecimento sobre medicamentos, uma vez que incluem a capacidade de analisar, interpretar e aplicar dados científicos e clínicos na otimização terapêutica, permitindo um olhar diferenciado na análise da eficácia, segurança e performance das tecnologias utilizadas. Deve-se mencionar que o Uso Racional de Medicamentos é uma das premissas de sua atuação, e que o desenvolvimento de políticas, que não apenas reduzam custos, mas também promovam melhores desfechos clínicos, sempre fez parte da formação técnica deste profissional. Ao participar da elaboração de diretrizes clínicas baseadas em evidências, o farmacêutico se faz um agente ativo na promoção da saúde.

Uma vez que a ATS se propõe ao monitoramento das tecnologias emergentes – com potencial aplicação no contexto de interesse, e na Oncologia existe certa frequência no uso off-label de medicamentos ou utilização de medicamentos importados, o farmacêutico possui competência técnica para a formulação de políticas institucionais nestes casos, visando assegurar que todas as práticas estejam em conformidade com as legislações e normas vigentes, minimizando riscos legais e promovendo a segurança dos processos.

Sendo assim, o agrupamento dessas informações compiladas pelo farmacêutico, quando realizado por um serviço estruturado e em consonância com os objetivos da organização, possibilita que desdobramentos ocorram para os times estratégicos e operacionais e contribui com a promoção de políticas e protocolos institucionais. A este respeito, apenas ter acesso não é suficiente. O acesso precisa estar respaldado clinicamente, sendo a alternativa que melhor beneficia aquele paciente, desde que haja também uma perspectiva de continuidade da utilização dessa tecnologia até que seja necessária. Nesse sentido, o estabelecimento de protocolos institucionais6, um processo multidisciplinar, agrega esses critérios e fortalece o discurso em uma área tão efervescente e estimulada quanto a Oncologia. A percepção da nova tecnologia e do seu posicionamento em uma linha de cuidado que, muitas vezes, é utilizada em combinação com agentes convencionais e produtos maduros no mercado tem como uma das principais entregas a promoção de uma incorporação realizada com transparência e, definitivamente, o farmacêutico é um profissional crucial nessa jornada.

 

REFERÊNCIAS

  1. IQVIA Institute for Human Data Science. Global oncology trends 2024: outlook to 2028. Annual trend report. May 28, 2024. Disponível em: <https://www.iqvia.com/insights/the-iqvia-institute/reports-and-publications/reports/global-oncology-trends-2024>. Acesso em: 08 out. 2024.
  2. O'ROURKE, B.; OORTWIJN, W.; SCHULLER, T.; International Joint Task Group. The new definition of health technology assessment: a milestone in international collaboration. International Journal of Technology Assessment in Health Care, v. 36, n. 3, p. 187-190, jun. 2020. DOI: 10.1017/S0266462320000215. Epub 2020 May 13. PMID: 32398176.
  3. ento de Ciência e Tecnologia. Diretrizes metodológicas: elaboração de estudos para avaliação de equipamentos médicos-assistenciais. 1. ed., 1. reimpr. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 96 p. il.
  4. BANTA, D.; ALMEIDA, R. T. The development of health technology assessment in Brazil. International Journal of Technology Assessment in Health Care, v. 25, supl. 1, p. 255-259, jul. 2009. DOI: 10.1017/S0266462309090722. Epub 2009 Jun 19. PMID: 19538816.
  5. BANTA, D.; JONSSON, E.; CHILDS, P. History of the international societies in health technology assessment: International Society for Technology Assessment in Health Care and Health Technology Assessment International. International Journal of Technology Assessment in Health Care, v. 25, supl. 1, p. 19-23, jul. 2009. DOI: 10.1017/S0266462309090369. Epub 2009 Jun 9. PMID: 19505349.
  6. ARAÚJO, D. V.; DISTRUTTI, M. S.; ELIAS, F. T. Priorização de tecnologias em saúde: o caso brasileiro. Jornal Brasileiro de Economia da Saúde, v. 9, supl. 1, p. 4-40, 2017.

 

Por Dra. Andrea Pereira, coordenadora do Comitê Multiprofissional da SBOC

A obesidade é uma doença crônica, caracterizada por aumento da gordura corporal e por índice de massa corporal ≥ 30 kg/m2. Atualmente, ela acomete cerca de 41 milhões de pessoas (26% da população brasileira), porém segundo a World Obesity Federation haverá um aumento para 40% da população em 2035.(1–3)Em um levantamento de 24 anos de pacientes brasileiras com câncer de mama, em média 30% tinham obesidade ao diagnóstico, mais do que a prevalência na população geral.  (4)

Vários parâmetros metabólicos ocasionam uma associação de obesidade com pelo menos 13 tipos de câncer entre eles: elevação da leptina, aromatase, lipólise, triglicérides, insulina, fator de crescimento vascular endoteliais (FCVE) e citocinas pró-inflamatórias e, redução da adiponectina e da estabilização do fator induzido por hipóxia (FIH1α). Além disso, temos a supressão da imunidade antitumoral, aumento da oxidação dos ácidos graxos das células cancerígenas e supressão das células T. (5,6) Todos esses fatores contribuem para uma maior prevalência de câncer em pessoas com obesidade.

Somado a maior risco, em geral, pacientes com obesidade descobrem o câncer de forma mais avançada. Isso ocorre devido ao preconceito dos profissionais da saúde em relação a eles, ocasionando menor solicitação de exames preventivos, atendimentos mais rápidos e ofensivos, afastando o paciente do serviço de saúde. Além disso, existe uma inadequação dos laboratórios e hospitais para a realização de exames em pacientes com obesidade. (7,8)

Durante o tratamento do câncer a obesidade reduz a resposta do mesmo e aumenta complicações: (9)

  1. Quimioterapia: aumento dos efeitos colaterais (menopausa precoce, alterações hormonais e fadiga) e da quimiotoxicidade, e pior resultado;
  2. Radioterapia: maior resistência a radioterapia e aumento da dor e alterações de pele, como efeitos secundários;
  3. Cirurgia: piora da cicatrização, maior taxa de óbito e infecções;
  4. Hormonioterapia: redução da eficácia e maior prevalência de fraturas;
  5. Imunoterapia: mais efeitos adversos e menor eficácia.

Em pacientes com câncer de próstata e obesidade existe um maior risco de mortalidade, probabilidade de ter o estadiamento subestimado na biópsia e diagnóstico mais tardio, comprometendo de forma significativa o prognóstico.(10)

Além da massa gorda, a redução da massa muscular com perda de funcionalidade, conhecida como sarcopenia, piora o prognóstico e qualidade de vida dos pacientes oncológicos, e aumenta efeitos adversos do tratamento. No caso da obesidade sarcopênica isso é ainda mais impactante, portanto, a avaliação da composição corporal é fundamental nesses pacientes.(11,12)

O tratamento da obesidade é multidisciplinar associando mudança de estilo de vida, alimentação saudável e equilibrada, prática regular de exercícios físicos, uso de medicação antiobesidade, acompanhamento psicológico e cirurgia bariátrica. (13–18)

A maioria dos estudos com paciente com obesidade e câncer falam de mudança de estilo de vida após o tratamento oncológico como medida de perda de peso, até porque o aumento do peso ou manutenção da obesidade, ocorrem geralmente em pacientes com câncer de mama, os demais pacientes perdem peso ao longo do tratamento. Porém, a obesidade requer um tratamento multiprofissional, com o uso de medicação, desde que não interagindo com o tratamento oncológico, desse modo, a semaglutida e tirzepatida são as mais indicadas e com melhores resultados no controle da obesidade. (19)

Em relação a cirurgia bariátrica, existe uma comprovação da sua eficácia na prevenção do câncer, devido a um efetivo controle da obesidade. Porém, devido sua interferência não conhecida na absorção das medicações oncológicas, não deve ser indicada antes do final do tratamento para o câncer. (18,20)

Concluindo, a obesidade é uma condição fundamental para um maior risco de câncer, pior resposta e prognóstico no tratamento oncológico. Portanto, o seu controle e tratamento são fundamentais para uma maior chance de cura e sobrevida nesses pacientes.

 

Referências:

1.        Wharton S, Lau DCW, Vallis M, Sharma AM, Biertho L, Campbell-Scherer D, et al. Obesity in adults: A clinical practice guideline. Cmaj. 2020;192(31):E875–91.

2.        Brasil. Ministério da Saúde. Vigitel Brasil 2019: Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquerito telefônico: Estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças não Transmissíveis. 2020. p. 1–277.

3.        Obesity W, Board E, Assembly WH, States M, Day WO. World Obesity Federation ’ s response to WHO Discussion Paper ‘ Draft recommendations for the prevention and management of obesity over the life course , including potential targets ’ World Obesity calls on Membe r States to request WHO ’ s Executive Boar. 2020. p. 1–10.

4.        Pereira AZ, Almeida-Pitito B de, Prado RR do, Mattar A, Hegg R, Shida JY, et al. Clinics in Oncology Overview of Obesity and Breast Cancer in Brazil : 24 Years. Clinics in Oncology. 2021;6:1–6.

5.        Rathmell JC. Obesity, Immunity, and Cancer. New England Journal of Medicine. 2021 Mar 25;384(12):1160–2.

6.        Brown KA. Metabolic pathways in obesity-related breast cancer. Vol. 17, Nature Reviews Endocrinology. Nature Research; 2021. p. 350–63.

7.        Yung RL, Ligibel JA. Obesity and Breast Cancer : Risk , Outcomes , and Future Considerations. 2016;14(10):790–7.

8.        Wee CW, McCarthy EP, Davis RB, Phillips RS. Screening for cervical and breast cancer: Is obesity an unrecognized barrier to preventive care? Ann Intern Med. 2000;132(9):697–704.

9.        Zhao C, Hu W, Xu Y, Wang D, Wang Y, Lv W, et al. Current Landscape: The Mechanism and Therapeutic Impact of Obesity for Breast Cancer. Vol. 11, Frontiers in Oncology. Frontiers Media S.A.; 2021.

10.      Langlais CS, Cowan JE, Neuhaus J, Kenfield SA, van Blarigan EL, Broering JM, et al. Obesity at diagnosis and prostate cancer prognosis and recurrence risk following primary treatment by radical prostatectomy. Cancer Epidemiology Biomarkers and Prevention. 2019;28(11):1917–25.

11.      Liu C, Liu T, Deng L, Zhang Q, Song M, Shi J, et al. Sarcopenic Obesity and Outcomes for Patients with Cancer. JAMA Netw Open. 2024 Jun 14;7(6):e2417115.

12.      Ligibel JA, Schmitz KH, Berger NA. Sarcopenia in aging, obesity, and cancer. Vol. 9, Translational Cancer Research. AME Publishing Company; 2020. p. 5760–71.

13.      Wolin KY, Carson K, Colditz GA. Obesity and Cancer. Oncologist [Internet]. 2010;15(6):556–65. Available from: http://theoncologist.alphamedpress.org/cgi/doi/10.1634/theoncologist.2009-0285

14.      Ligibel JA, Wollins D. American society of clinical oncology obesity initiative: Rationale, progress, and future directions. Journal of Clinical Oncology. 2016;34(35):4256–60.

15.      Bianchini F, Kaaks R, Vainio H. Review Overweight , obesity , and cancer risk. Lancet Oncol. 2002;3(September):565–75.

16.      Nagendra L, BG H, Sharma M, Dutta D. Semaglutide and cancer: A systematic review and meta-analysis. Diabetes & Metabolic Syndrome: Clinical Research & Reviews. 2023 Sep 1;17(9):102834.

17.      Cuttica CM, Briata IM, DeCensi A. Novel Treatments for Obesity: Implications for Cancer Prevention and Treatment. Vol. 15, Nutrients. Multidisciplinary Digital Publishing Institute (MDPI); 2023.

18.      Aminian A, Wilson R, Al-Kurd A, Tu C, Milinovich A, Kroh M, et al. Association of Bariatric Surgery with Cancer Risk and Mortality in Adults with Obesity. JAMA - Journal of the American Medical Association. 2022;327(24):2423–33.

19.      Fischbach NA, Zhou B, Deng Y, Parsons K, Shelton A, Lustberg MB. Impact of semaglutide and tirzepatide administration on weight in women with stage I-III breast cancer. 2024.

20.      Goldberg SL. Bariatric surgery and oral chemotherapy: Where is the dosing guidance? Vol. 129, Cancer. John Wiley and Sons Inc; 2023. p. 1800–2.

Por Dra. Karina Rodrigues Romanini Subi e Dra. Polianna Mara Rodrigues de Souza

Introdução

Priorizar alívio da dor em pacientes oncológicos é essencial. Estima-se que, no momento do diagnóstico, cerca de um terço dos pacientes já experimentam algum tipo de dor. Esse percentual ultrapassa 50% em algum estágio da doença e pode chegar a quase 70% nos casos em que a doença está avançada1.

‌A dor não controlada gera estresse fisiológico, o que influencia negativamente processos de reabilitação e recuperação, além de poder impactar diretamente os resultados do tratamento oncológico2. Os pacientes que sofrem de dor mal controlada tendem a apresentar redução na capacidade funcional, maior dependência, alterações de humor, isolamento social, distúrbios no sono, perda de apetite, dificuldades de locomoção e deambulação, além de uma percepção negativa da própria saúde. Isso se traduz em maior demanda por cuidados de saúde e, consequentemente, em aumento dos custos e diminuição da qualidade de vida1,2.

Já sabemos que o controle eficaz da dor e de outros sintomas contribui para a melhora da sobrevida global, aumenta a tolerância ao tratamento oncológico e aprimora a qualidade de vida dos pacientes3.

No entanto, muitas vezes, menos da metade dos pacientes com dor informa esse sintoma ao seu oncologista. Essa resistência pode ser motivada pelo receio de que a queixa de dor interfira negativamente no tratamento, ou pela crença de que sentir dor faz parte do processo da doença e que é algo inevitável2,4.

Infelizmente, cerca de 25% dos pacientes com câncer falecem com dor não controlada. Essa realidade evidencia o desafio de manejar a dor nesses pacientes, exigindo uma abordagem que inclua não só a aplicação de escalas adequadas para sua avaliação, mas também o entendimento da fisiopatologia da dor para o diagnóstico correto de sua origem, além do conhecimento dos princípios de farmacologia e das técnicas intervencionistas. Ademais, é fundamental considerar o caráter multifatorial da dor, o que requer a compreensão dos aspectos mais subjetivos, como a capacidade de acolhimento, a criação de vínculos e a avaliação biopsicossocial do paciente em diferentes fases do tratamento4.

Essa abordagem caracteriza a concepção de Dor Total, que engloba não apenas os sintomas físicos, mas também os fatores psicológicos, sociais e espirituais que geram um impacto multidimensional no sofrimento. Tal sofrimento não afeta somente o paciente, mas também seus familiares e cuidadores.

 

Manejo da Dor Oncológica - Abordagem Multimodal

O tratamento da dor oncológica deve ser multi e interdisciplinar, individualizado, com foco na avaliação contínua e ajuste das terapias conforme a resposta do paciente3,4.

A terapia farmacológica deve ser multimodal, utilizando diferentes classes de medicamentos para atuar em mecanismos distintos da dor, minimizando os efeitos colaterais e otimizando o alívio3,4.

A escada analgésica da OMS, mundialmente difundida, atualmente se constitui em medida educacional útil, porém não consiste em protocolo rigoroso para o tratamento da dor oncológica3.  Ela norteia o manejo medicamentoso, porém outros estudos indicam uma tendência à supressão do segundo degrau, além da descrição de sugestões para a inclusão de um quarto degrau para locar as opções de intervenção.  Essas alterações não têm por intuito negar o uso da escada original, que já se mostrou efetiva ao longo dos anos, mas tais adaptações se mostram necessárias para assegurar seu uso continuado com as inovações mais recentes em farmacologia e intervencionismo, sem perder sua simplicidade original, facilitando a disseminação do conhecimento em dor oncológica.

É recomendável o uso de opioides fortes como primeira linha de analgésicos para o tratamento da dor oncológica, sobretudo quando moderada a intensa4,5. Os opioides constituem o principal pilar do tratamento da dor oncológica e podem ser utilizados em todos os tipos de dor. Tal recomendação fica ainda mais embasada ao analisarmos sobre o uso controverso de codeína, devido à variabilidade na resposta individual ao fármaco. A metabolização da codeína pode ser afetada por fatores genéticos, levando alguns indivíduos a metabolizá-la rápido demais, o que pode resultar em toxicidade, enquanto outros podem não obter alívio da dor suficiente. Esses riscos tornam a morfina uma opção mais segura e confiável.

 

Adjuvantes

As medicações adjuvantes têm efeitos analgésicos indiretos e devem ser utilizadas para aprimorar a eficácia dos opioides, reduzir seu consumo, prevenir e tratar sintomas que possam agravar a dor, além de auxiliar no manejo da dor neuropática ou nociplástica3,4. Exemplos de medicamentos adjuvantes incluem anticonvulsivantes, antidepressivos tricíclicos e duais, corticosteroides, bisfosfonatos, neurolépticos e anestésicos locais. Embora os estudos sobre adjuvantes sejam predominantes na dor neuropática não oncológica, suas aplicações no contexto oncológico também têm mostrado resultados promissores.

 

Terapias Não Farmacológicas

A inclusão de fisioterapia, psicoterapia e práticas integrativas, como acupuntura e mindfulness, tem se mostrado eficaz no manejo da dor crônica e na melhora do bem-estar global dos pacientes4,5.

 

 

Terapias Intervencionistas

O tratamento intervencionista envolve a utilização de técnicas minimamente invasivas para o alívio da dor, podendo ser aplicado isoladamente ou em conjunto com a terapia medicamentosa. Essas intervenções podem resultar na eliminação ou na significativa redução do consumo de analgésicos, com a consequente diminuição dos efeitos colaterais associados a esses medicamentos4,5.

Infelizmente, essas abordagens ainda são frequentemente vistas como medidas de exceção, um equívoco que pode levar ao prolongamento do sofrimento do paciente e à perda do tempo ideal para a sua realização. Muitas vezes, os procedimentos intervencionistas são solicitados em estágios avançados da doença, quando o paciente já se encontra em situação clínica crítica ou em fase terminal, limitando a eficácia das intervenções e resultando em um benefício de curto prazo.

É crucial que a ausência de contraindicações gerais — como infecção, coagulopatia e recusa do paciente — seja sempre avaliada antes da realização de qualquer procedimento. Além disso, uma abordagem multidisciplinar e a consideração das preferências do paciente são fundamentais para garantir que as intervenções sejam realizadas no momento adequado, otimizando os resultados e melhorando a qualidade de vida do paciente.

A adoção mais ampla dessas técnicas pode não apenas melhorar o controle da dor, mas também reduzir a necessidade de tratamentos medicamentosos mais agressivos, promovendo um cuidado mais equilibrado e centrado no paciente.

 

Desafios e Barreira no Tratamento da Dor Oncológica

Apesar dos avanços no manejo da dor, muitos pacientes oncológicos continuam a sofrer devido a uma série de barreiras ao tratamento adequado, incluindo3,4:

- Estigma em relação ao uso de opioides: O medo de dependência e a relutância em prescrever opioides em doses eficazes são obstáculos comuns no manejo da dor.

- Acesso limitado a especialistas: Em muitas regiões, o acesso a cuidados especializados em dor ainda é restrito, limitando as opções de tratamento para pacientes com dor complexa.

- Educação inadequada: Pacientes e profissionais de saúde muitas vezes carecem de conhecimento sobre o manejo adequado da dor, resultando em sub tratamento.

 

Conclusão

O manejo adequado da dor oncológica, independentemente da sua intensidade, é crucial para a qualidade de vida dos pacientes com câncer. A utilização de uma abordagem multimodal, que combine opioides, analgésicos adjuvantes e terapias intervencionistas, pode proporcionar um alívio eficaz da dor e melhorar o bem-estar físico e emocional dos pacientes. Contudo, é necessário um esforço contínuo para superar as barreiras ao tratamento e garantir que todos os pacientes recebam cuidados adequados e individualizados.

 

Referências

  1. Snijders RAH, Brom L, Theunissen M, van den Beuken-van Everdingen MHJ. Update on Prevalence of Pain in Patients with Cancer 2022: A Systematic Literature Review and Meta-Analysis. Cancers. 2023 Jan 18;15(3):591.
  1. Min EK, Chong JU, Hwang HK, Pae SJ, Kang CM, Lee WJ. Negative oncologic impact of poor postoperative pain control in left-sided pancreatic cancer. World J Gastroenterol. 2017;23(4):676-686. doi:10.3748/wjg.v23.i4.676

       3.    Portenoy RK, Mehta Z, Ahmed E. Cancer pain management: General principles and risk management for patients receiving opioids. UpToDate. Retrieved Oct 10, 2024. Available: https://www.uptodate.com/contents/cancer-pain-management-general-principles-and-risk-management-for-patients-receiving-opioids

  1. WHO Guidelines for the Pharmacological and Radiotherapeutic Management of Cancer Pain in Adults and Adolescents. Geneva: World Health Organization; 2018.
  1. National Comprehensive Cancer Network. Adult Cancer Pain (Version 2.2024)- https://www.nccn.org/professionals/physician_gls/pdf/pain.pdf Accessed October 03, 2024.

A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) é a entidade nacional que representa os médicos oncologistas clínicos. Fundada em 1981, a SBOC tem como um dos seus princípios a valorização da ciência e, nesse sentido, reprova a disseminação de informações falsas.

Uma em cada três publicações sobre câncer nas redes sociais contém informação incorreta, segundo o National Cancer Institute (NCI). O alerta da principal agência norte-americana para pesquisa do câncer corrobora com o que tem sido observado pela SBOC, que ao longo deste ano foi contatada diversas vezes pela imprensa para desmentir fake news ou explicar associações equivocadas a partir de postagens de grande repercussão nas redes sociais.

O câncer de mama é uma doença multifatorial e resultado da multiplicação desordenada de células anormais da mama, ou seja, uma disfunção celular. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a projeção de novos casos de câncer de mama, somente no Brasil, deve ultrapassar 74 mil diagnósticos até 2025. Este tipo de neoplasia é considera hoje a mais comum entre as mulheres no País.

Entre os recursos aliados para a detecção precoce do câncer de mama, está a mamografia – exame que gera imagens de alta qualidade capazes de revelar a existência de sinais iniciais da doença. O exame, geralmente, é indicado para mulheres a partir dos 40 anos, independente da presença de sintomas. Quando se detecta alterações pré-malignas e tumores mamários muito pequenos, o que é possível a partir da mamografia, as chances de cura do câncer de mama são de aproximadamente 95%.

É importante ressaltar que pacientes e seus familiares frequentemente recebem informações que não são respaldados pela comunidade científica, inclusive de fontes não especializadas em saúde. Hoje existem terapias eficazes e seguras para a maioria dos tipos de câncer. Substituir terapias comprovadas por alternativas sem evidência científica pode colocar o paciente em risco de vida e de toxicidade.

Em seu site, a SBOC disponibiliza uma página especial com infográficos que destacam os principais métodos cientificamente comprovados para reduzir o risco de câncer. Para mais detalhes, acesse: https://sboc.org.br/prevencao

Bacharela em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (USP), em 1994, Dra. Anamaria Camargo tornou-se doutora em ciências, em 1997, pela mesma instituição, pesquisando a biologia da relação patógeno-hospedeiro.

Desde o início de suas atividades científicas, tem se dedicado ao estudo da organização genômica de diversos organismos. Entre 1997 e 2000, participou da coordenação do Projeto de Sequenciamento do Genoma da bacteria Xylella fastidiosa e, entre 1999 e 2000, do Projeto Genoma do Câncer Humano. Também teve participação ativa na Rede Nacional de Sequenciamento de Genomas Bacterianos formada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.

Atualmente, atua no Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa como coordenadora do Centro de Oncologia Molecular e gerente de pesquisa. Tem como principal linha de pesquisa o estudo de alterações genéticas e epigenéticas que ocorrem na célula tumoral, visando o desenvolvimento de novas ferramentas para o diagnóstico, o prognóstico e o tratamento da doença.

Já recebeu os prêmios Mérito Científico e Tecnológico do Estado de São Paulo, concedido pelo governo estadual em 2000, e o Octávio Frias de Oliveira, concedido pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), em 2020, na modalidade Personalidade de Destaque em Oncologia.

Ingressou na Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) em 2024, para fazer parte do Comitê de Oncogenômica da entidade. Por sua extensa dedicação à ciência, Dra. Anamaria Camargo foi agraciada com o Prêmio Bernardo Garicochea de Pesquisa Oncológica Translacional – rebatizado neste ano em homenagem ao pesquisador falecido em 11 de outubro último. A categoria enaltece quem é reconhecido por sua contribuição à pesquisa translacional com aplicação na oncologia clínica. 

Dra. Anamaria Camargo e os demais contemplados pelos Prêmios SBOC 2024 serão homenageados na sessão plenária do XXV Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, que acontecerá no dia 8 de novembro, às 16h45, no Rio de Janeiro.

Nos anos anteriores, receberam essa premiação Dr. Alessandro Leal (2019), Dr. Carlos Gil Ferreira (2021), Prof. Dr. Roger Chammas (2022) e Dr. Rodrigo Dienstmann (2023).

 

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A SBOC conversou com Anamaria Camargo e fez a ela três perguntas sobre a sua carreira como oncologista clínico. Confira a seguir:

 

Como a pesquisa translacional surgiu na sua vida?

Durante o meu pós-doutorado realizado no Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer e Hospital A.C.Camargo. Neste período, aprendi que a ciência vai além de gerar conhecimento e que o conhecimento precisa ser transformado em cuidado.

 

Na sua opinião, qual será o futuro dessa especialidade? 

A oncologia será cada vez mais personalizada e multidisciplinar e o câncer será controlado e tratado como uma doença crônica.

 

Uma frase, música ou poema que te inspire?

“A ciência ensina o amor pela verdade e a necessidade do trabalho, não como um castigo, mas como o mais elevado meio de empregar a sua atividade”. De Marcelin Berthelot – professor, químico e político francês.

A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) decidiu expandir as homenagens ao oncologista clínico Dr. Bernardo Garicochea, falecido em 11 de outubro último, aos 63 anos. Assim, o Prêmio SBOC de Pesquisa Oncológica Translacional passará a se chamar, já em 2024, Prêmio Bernardo Garicochea de Pesquisa Oncológica Translacional.

A decisão, aprovada pela Diretoria da SBOC, é uma maneira de reconhecer a carreira do Dr. Bernardo, que atuava como oncologista e hematologista da Clínica CPO (Oncoclínicas), coordenando o grupo de genética, e como diretor científico do laboratório de genética molecular Idengene.

O pesquisador era graduado em Medicina e mestre e doutor em Farmácia. Especializou-se em biologia da leucemia pela Royal Postgraduate Medical School Londres (Inglaterra) e em genética humana pelo Memorial Sloan Kettering Cancer Center de Nova York (EUA). Era associado da SBOC desde 2017, tendo trabalhado arduamente pelo desenvolvimento da especialidade. Era membro do Comitê de Oncogenética da instituição.

O agora Prêmio Bernardo Garicochea de Pesquisa Oncológica Translacional é concedido, a exemplo do pesquisador que agora dá nome à categoria, a profissionais reconhecidos pela contribuição à medicina translacional com aplicação na oncologia clínica que já tenham sido autores e coautores de publicações em revistas internacionais indexadas.

Já receberam essa premiação Dr. Alessandro Leal (2019), Dr. Carlos Gil Ferreira (2021), Prof. Dr. Roger Chammas (2022) e Dr. Rodrigo Dienstmann (2023). O vencedor de 2024 será anunciado nesta sexta-feira, 24 de outubro, e homenageado na sessão plenária do XXV Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, que acontecerá em 8 de novembro, às 16h45, no Rio de Janeiro (RJ).

Formado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) em 1973, Dr. Sergio Simon realizou seu internato e sua residência em medicina interna no Mount Sinai Medical Center, em Miami (Estados Unidos). Ainda nos EUA, realizou dois fellowships: o primeiro em hematologia na Rutgers University, em Nova Jérsei, entre 1977 e 79, e o segundo em oncologia clínica no Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova Iorque, entre 1979 e 1980.

De volta ao Brasil, Dr. Simon completou a sua formação acadêmica novamente na FMUSP, defendendo tese de doutorado sobre caracterização imunofenotípica do câncer de mama familial ligado a mutações somáticas dos genes BRCA1 e BRCA2.

Membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) desde 1985, ano no qual ocupou a vice-presidência para relações internacionais, Dr. Simon integrou as gestões seguintes na entidade até 1991, quando ocupou as vice-presidências para estudos cooperativos e para pesquisas clínicas. Em 2017, retornou à SBOC, mas dessa vez como Presidente, cargo no qual permaneceu até 2019.

Em 2006, foi um dos fundadores do Grupo Brasileiro de Estudos Clínicos em Câncer de Mama (GBECAM), onde atualmente faz parte do Conselho Administrativo. Entre outras atribuições na vida associativa, é também membro da European Society for Medical Oncology (ESMO) e da American Society of Clinical Oncology (ASCO).

Ao longo da sua carreira, produziu dezenas de publicações nacionais e internacionais, entre livros, capítulos e artigos científicos. Foi, até 2013, Professor Associado de Oncologia Clínica na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Até aposentar-se recentemente da prática clínica, Dr. Sergio Simon era oncologista clínico no Hospital Israelita Albert Einstein e no Grupo Oncoclínicas.

Pelo conjunto de sua trajetória, ele recebe neste ano o Prêmio Ronaldo Ribeiro de Carreira em Oncologia Clínica. Este é o mais tradicional prêmio da SBOC – criado em 2017 em homenagem ao cientista e oncologista clínico fortalezense falecido em 2015 – e o maior reconhecimento da entidade a profissionais líderes em sua área de atuação, tendo exercido cargos ou atividades importantes em oncologia clínica.

Os vencedores anteriores desse prêmio foram Dr. Wadih Arap (2017), Dr. Jorge Sabbaga (2019), Dr. Antônio Carlos Buzaid (2021), Dr. Auro del Giglio (2022) e Dr. Nelson Teich (2023).

Dr. Sergio Simon e os demais contemplados pelos Prêmios SBOC 2024 serão homenageados na sessão plenária do XXV Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, que acontecerá no dia 8 de novembro, às 16h45, no Rio de Janeiro.

 

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A SBOC conversou com Dr. Sergio Simon e fez a ele três perguntas sobre a sua carreira como oncologista clínico. Confira a seguir:

 

Como a oncologia surgiu na sua vida e por que escolheu esta especialidade?

A oncologia clínica surgiu na minha vida por influência do meu chefe da residência, que me convidou para participar do ambulatório de uma nova especialidade que estava surgindo nos anos 1970. Logo decidi me especializar na área de câncer e o fellowship em oncologia clínica no Memorial Sloan Kettering Cancer Center confirmou que minha escolha havia sido acertada.

 

Na sua opinião, qual será o futuro dessa especialidade?

A oncologia clínica está cada vez mais individualizando a biologia de cada tumor, permitindo tratamento sob medida para cada caso. No futuro, utilizaremos dados de alvos celulares específicos e marcadores imunológicos para cada paciente, permitindo, provavelmente com a ajuda de inteligência artificial, um tratamento mais adequado para cada caso.

 

Uma frase, música ou poema que te inspire?

Há uma frase do ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama que deve servir de bússola para os oncologistas: “Hope is the thing inside us that insists, despite all the evidence to the contrary, that something better awaits us if we have the courage to reach for it and to work for it and to fight for it”. Apesar das derrotas pontuais, o oncologista não pode perder a esperança de que um dia alcançaremos a cura do câncer.

Natural de Belo Horizonte (MG), Dra. Andréia Melo graduou-se em Medicina na Universidade Federal de Minas Gerais, em 2003; e no Instituto de Previdência dos Servidores do Estado fez sua residência em Clínica Médica. O próximo passo de sua formação foi na instituição a qual até hoje é vinculada: o Instituto Nacional de Câncer (INCA), no Rio de Janeiro (RJ).

Ainda no INCA, Dra. Andréia fez residência médica em Oncologia Clínica, mestrado e doutorado, quando pesquisou, respectivamente, câncer de pulmão não pequenas células e câncer do colo do útero localmente avançado. 

Atualmente, ela é chefe da Divisão de Pesquisa Clínica do INCA, médica oncologista no Grupo Oncoclínicas e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Estácio de Sá. 

No âmbito acadêmico, tem atuação prolífica na publicação de artigos e pesquisas, bem como na participação de bancas e em orientações de teses e dissertações. Também já recebeu diversos prêmios e títulos, como o Mulheres na Ciência, em 2020, entregue por L’Oréal, Unesco e Academia Brasileira de Ciências; e o Jovem Cientista do Nosso Estado, em 2022, entregue pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ)

Já fez parte da diretoria do Grupo Brasileiro de Melanoma e é atualmente diretora de Pesquisa do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA). Ingressou na Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) em 2010 e na entidade já fez parte da diretoria por duas gestões durante o período de 2021 a 2023. Foi presidente da Comissão Científica do Congresso SBOC 2023 e hoje é coordenadora do Comitê de Tumores Ginecológicos e membro de Comitê de Lideranças Femininas.

Pela vasta experiência na oncologia e na pesquisa clínica, Dra. Andréia Melo foi prestigiada com o Prêmio SBOC de Protagonismo Feminino na Oncologia. O reconhecimento é entregue às mulheres que contribuem significativamente na promoção de ambientes profissionais equânimes e que sejam reconhecidas por sua atuação na especialidade.

Dra. Andréia Melo e os demais contemplados com os Prêmios SBOC 2024 serão homenageados no XXV Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, que acontecerá de 7 a 9 de novembro, no Rio de Janeiro. A cerimônia especial de entrega dos troféus aos premiados ocorrerá na sessão plenária do evento: 08 de novembro, às 16h45.

Nos anos anteriores, receberam essa premiação a Dra. Angelita Gama (2019), Dra. Rachel Riechelmann (2021), Dra. Aline Lauda Freitas Chaves (2022) e Dra. Patricia Ashton-Prolla (2023).

 

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A SBOC conversou com Dra. Andreia Melo e fez a ela três perguntas sobre a sua carreira como oncologista clínica. Confira a seguir:

 

Como a oncologia surgiu na sua vida e por que escolheu esta especialidade?

Durante a minha residência em Clínica Médica tive a oportunidade de acompanhar o Serviço de Oncologia do Hospital e dois aspectos durante o meu estágio me despertaram o desejo de ser oncologista.

O primeiro deles foi a relação médico-paciente, que em uma especialidade que lida de perto com doenças ameaçadoras à vida, é muito mais intensa e desafiadora do que a de outras especialidades clínicas.

Outro aspecto que me encantou foi a velocidade da incorporação de novas tecnologias na área. Naquela época eu já tinha o desejo de trabalhar com pesquisa durante a minha carreira, e vi na oncologia uma grande oportunidade para ser pesquisadora.

 

Na sua opinião, qual será o futuro dessa especialidade? 

Acredito que ainda vamos aprimorar muito as modalidades de tratamento oncológico com refinamentos nas terapias já consideradas padrão. O melhor entendimento da resistência primária e adquirida, modificações no cronograma das intervenções, uso corriqueiro da biópsia líquida, o emprego ampliado de escores de risco genômico, além de novas terapias e combinações será o futuro, certamente.

Ainda temos muito o que fazer no campo da educação em saúde com informações sobre prevenção primária, o estilo de vida saudável, a vacinação, o rastreio, o diagnóstico precoce e a sobrevivência após o tratamento de neoplasias.

Como médica oncologista, que na rotina diária lida com doenças graves que causam sofrimento aos pacientes e às suas famílias, sonho em um futuro eliminar as disparidades na saúde e garantir o acesso e a equidade aos cuidados oncológicos para todos os cidadãos brasileiros.

 

Uma frase, música ou poema que te inspire?

“Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade” - Carlos Drummond de Andrade.

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Outubro Rosa: Turma da Mônica

 

A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) é a alma mater do oncologista clinico Dr. Daniel Girardi. Na instituição, graduou-se (em 2009) em Medicina, quando já fazia parte da Liga de Oncologia, e realizou residência médica em Clínica Médica e Oncologia Clínica.

Atualmente, atua tanto no Hospital Sírio-Libanês de Brasília (DF), no qual é coordenador do Centro de Oncologia, quanto no Hospital de Base do Distrito Federal, onde é chefe do Serviço de Oncologia Clínica. 

Seus estudos são focados em tumores gastrointestinais e geniturinários. Entre 2019 e 2020, complementou sua formação após ser selecionado para um programa avançado de especialização em tumores geniturinários e pesquisa clínica no National Institutes of Health, em Bethesda (EUA). 

Apesar de ainda ser um jovem especialista, acumula prêmios, títulos e dezenas de publicações, entre livros, capítulos e artigos. Foi um dos organizadores do XIX Congresso Brasileiro de Estudantes de Medicina em 2007.

Membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) desde 2017, Dr. Girardi foi editor do SBOC Review em 2020, participou da elaboração da prova para o Título de Especialista em Oncologia Clínica (TEOC) em 2021, entre outras contribuições para a Escola Brasileira de Oncologia. Atualmente, é um dos representantes regionais da instituição no Centro-Oeste.

Por conta dessa carreira ainda curta, ele acaba de ser contemplado com o Prêmio Jovem Oncologista SBOC – principal congratulação da entidade a oncologistas de até 40 anos que sejam reconhecidos pela contribuição à especialidade e que tenham atuação comprovada em pesquisa e divulgação científica.

 

Os premiados serão homenageados e receberão seus troféus durante a sessão plenária do XV Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, em 8 de novembro, às 16h45.

Nos anos anteriores, receberam essa premiação o Dr. Denis Jardim (2019), o Dr. Romualdo Barroso (2021), Dr. Pedro Henrique Isaacson Velho (2022) e Dr. Rodrigo Munhoz (2023).

 

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A SBOC conversou com Dr. Daniel Girardi e fez a ele três perguntas sobre a sua carreira como oncologista clínico. Confira a seguir:

 

Como a oncologia surgiu na sua vida e por que escolheu esta especialidade?

Conheci a oncologia ainda durante a graduação e me encantei pela especialidade. Durante os primeiros anos da faculdade fiz parte da Liga de Oncologia. Ao longo da residência de Clínica Médica reforcei a decisão de que era a especialidade a ser escolhida. O que me encanta na oncologia é sua dinamicidade, o contato intenso com pacientes e familiares, a constante atualização necessária e os desafios e oportunidades tanto no sistema público quanto no privado.

 

Na sua opinião, qual será o futuro dessa especialidade?

Vejo a especialidade cada vez mais eficiente em curar e controlar a doença. No futuro teremos tratamentos cada vez mais potentes e individualizados, o que certamente será maravilhoso para nossos pacientes. No entanto, me preocupa o acesso a essas novas medicações no Sistema Único de Saúde (SUS) e o custo atrelado ao avanço. Acesso e custo são questões que precisam ser discutidas cada vez mais, não só em nível de SUS e Brasil, mas globalmente.

 

Uma frase, música ou poema que te inspire?

Sou muito próximo e gosto muito do lema da Rede Feminina de Combate ao Câncer do Distrito Federal. Inspiro-me nele em situações difíceis no dia a dia do consultório: “Doando amor, enxugando lágrimas e provocando sorrisos”.

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