A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) lançou, nesta quarta-feira, 4 de novembro, o livro “A História da Mulher na Medicina”, um registro inédito sobre a trajetória de mulheres que transformaram a medicina em todo o mundo, de curandeiras e parteiras na antiguidade a cientistas laureadas e líderes de instituições contemporâneas. A cerimônia foi realizada na sede da Academia Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro (RJ).
A obra reúne textos de médicas e pesquisadoras brasileiras e perfis de figuras históricas que desafiaram as barreiras de gênero em um campo tradicionalmente masculino. “Este é um livro que nasce do desejo de resgatar, reconhecer e celebrar a trajetória das mulheres da medicina, enquanto vivemos um momento histórico na SBOC, com três mulheres na presidência consecutivamente, além de uma diretora executiva”, introduziu a Presidente da SBOC, Dra. Angélica Nogueira.
No seu entendimento, reconhecer a carreira dessas mulheres é fundamental para inspirar novas gerações e consolidar a liderança feminina como força estruturante da medicina contemporânea. “Essas pesquisas são um retrato coletivo de coragem e inovação. Cada texto deste livro é um testemunho de resistência”, completou Dra. Angélica.
Ex-Presidente da SBOC (Gestão 2019-21), Dra. Clarissa Mathias também participou da cerimônia. A sua contribuição foi reconhecida durante a cerimônia, por ter sido a segunda mulher a ocupar a presidência da Sociedade em quatro décadas de existência, à época. “Criamos o Comitê de Lideranças Femininas naquela gestão, implementando políticas para promover igualdade de gênero que criaram estruturas de apoio para ações contínuas, que agora chegam ao lançamento desse livro”, declarou a oncologista.
A História da Mulher na Medicina
O livro é dividido em nove capítulos. Os primeiros percorrem a história da presença feminina na medicina mundial, latino-americana e brasileira, apresentando desde Peseshet, considerada a primeira médica conhecida do Egito Antigo (2700 a.C.), e Metrodora, autora bizantina de um tratado sobre doenças femininas, até as brasileiras que abriram caminho nas universidades e hospitais no século XX, como Nise da Silveira.
Como explicou a Presidente Eleita da SBOC, Dra. Clarissa Baldotto, durante o lançamento, na obra é aprofundada a discussão sobre os obstáculos enfrentados pelas mulheres na conquista e permanência em espaços de liderança na medicina.
São abordados temas como o assédio moral e sexual, que evidenciam a naturalização da violência simbólica e a cultura do silêncio; o “teto de vidro”, que simboliza as barreiras invisíveis que ainda limitam o avanço das mulheres em cargos de decisão; e a síndrome da impostora, sentimento recorrente entre profissionais que, apesar dos méritos, questionam a própria capacidade.
O livro também examina as disparidades salariais e de representatividade, revelando como a desigualdade de remuneração e a subrepresentação feminina em cargos de comando perpetuam o desequilíbrio estrutural na medicina.
“Impossível achar que vamos inovar, se não conhecemos a história. Com essa estrutura, trazemos ideias do passado para que possamos evoluir no futuro. Esses capítulos nos ajudam a refletir e ter esperança, além de pensar no futuro da medicina sob a perspectiva feminina. Que o livro inspire homens e mulheres para tornar a profissão mais plural e justa”, declarou Dra. Baldotto.
Os capítulos finais ampliam o debate, apontando para os desafios contemporâneos da liderança feminina e a importância da equidade de gênero como princípio estruturante da prática médica. Entre as homenageadas – como citou a Presidente de Honra da SBOC, Dra. Anelisa Coutinho – estão Marie Curie, Rosalind Franklin, Virginia Apgar, Elisabeth Kübler-Ross, Cicely Saunders, Jane Cooke Wright e Gerty Cori, algumas das mulheres que revolucionaram áreas como a oncologia, genética, psiquiatria e cuidados paliativos.
“Essas foram médicas pioneiras, arquitetas de um novo tempo, em um cenário que o saber lhes era negado e o exercício da profissão lhes era vedado. Elas tiveram coragem para aprender, ensinar, cuidar e liderar caminhos em um território hostil”, declarou Dra. Anelisa. “Elas fundaram escolas, serviços e introduziram novas práticas, afirmando que a medicina é um espaço de humanismo e equidade”, adicionou.
Diretora executiva da SBOC, Dra. Marisa Madi, completou a mesa relembrando que em 30 anos de atuação de administração de saúde, nunca tinha tido a oportunidade de observar uma entidade com tantas líderes mulheres. “O meu sonho é que a gente consiga ter um mundo corporativo que isso seja normal”, disse.

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