Bacharela em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (USP), Dra. Luisa Lina Villa é doutora pelo Instituto de Química da mesma instituição, onde também é professora livre-docente pelo Departamento de Radiologia e Oncologia da Faculdade de Medicina.
Por quase três décadas, Dra. Luisa foi pesquisadora da filial de São Paulo do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, sendo que entre 2006 e 2011 exerceu o cargo de diretora científica. DE 2010 a 2017, coordenou o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia das Doenças do Papilomavírus (INCT-HPV) – programa conduzido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia em parceria com a FAPESP e o CNPq, com a missão de ampliar o conhecimento sobre infecções e doenças causadas pelo HPV em diferentes níveis.
Atualmente, é chefe do Laboratório de Inovação em Câncer do Centro de Investigação Translacional em Oncologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp); membro do Comprehensive Center for Precision Oncology (C2PO) da USP e da Academia Brasileira de Ciências; e Comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico.
Em novembro de 2020, foi classificada na 25ª posição entre os pesquisadores da USP mais influentes da ciência mundial (Base de Dados Scopus e Revista PLOS Biology). Com mais de 400 artigos científicos publicados e orientação para dezenas de mestres e doutores, ela tem contribuição de forma decisiva para o avanço do conhecimento científico e translacional em oncologia no Brasil.
Agora reconhecida pelo Prêmio Bernardo Garicochea de Pesquisa Oncológica Translacional – criado pela SBOC em 2019, mas que desde o ano passado homenageia o pesquisador falecido em 2024 – Dra. Luisa passa a fazer parte do seleto grupo de brasileiros que se destacam na pesquisa translacional em oncologia. Outros contemplados com essa premiação foram: Dr. Alessandro Leal (2019), Dr. Carlos Gil Ferreira (2021), Prof. Dr. Roger Chammas (2022), Dr. Rodrigo Dienstmann (2023) e Dra. Anamaria Camargo (2024).
A SBOC conversou com Luisa Lina Villa e fez a ela três perguntas sobre sua trajetória científica. Confira a seguir:
Como a pesquisa translacional surgiu na sua vida?
Após décadas de pesquisa sobre o HPV, e sua vinculação a uma série de tumores em humanos, ficou claro que deveríamos investir em formas de se prevenir dessas infecções, visando reduzir as elevadas taxas de incidência e mortalidade associadas aos cânceres causados por HPV, particularmente o câncer do colo do útero. Em poucos anos, foram testadas e aprovadas vacinas profiláticas contra os principais tipos de HPV, cujo impacto na redução de infecções e doenças causadas pelos HPVs já vem sendo registrado em todo mundo, inclusive no Brasil. Além disso, as pesquisas indicaram claramente que o teste molecular do agente causal do câncer do colo do útero é muito mais sensível que a citologia oncótica no rastreamento desse tumor. Isso é fruto de pesquisa translacional em mulheres e homens, conduzida em diversos países incluindo o Brasil, que agora poderão se beneficiar de prevenção secundária com testes moleculares muito mais sensíveis que os testes aplicados durante décadas.
Na sua opinião, qual será o futuro dessa especialidade?
A pesquisa translacional em oncologia visa aproximar cada vez mais o ‘laboratório do leito’, em benefício do paciente, visando formas mais eficientes para controlar o câncer. Atualmente, a Medicina de Precisão busca aplicar uma série de medidas e intervenções, como diversas abordagens de sequenciamento genético, imunoterapias, novos alvos terapêuticos, além de vacinas terapêuticas, edição gênica, modelos tumorais 3D, organoides, entre outros, para aumentar a efetividade do tratamento de tumores. Também deve-se destacar o desenvolvimento de tecnologias no diagnóstico precoce de câncer, como biópsias líquidas para identificar DNA tumoral circulante e outros analitos, mas também a identificação de perfis de risco tanto para o surgimento quanto progressão de tumores, permitindo intervenções nos estágios iniciais da doença. Em qualquer das modalidades mencionadas, a colaboração entre biólogos, farmacêuticos, biomédicos, médicos, bioinformatas, entre outros, é crítica para permitir que os avanços científicos possam ser aplicados para o benefício da população.
Uma frase, música ou poema que a inspire:
“Raras são as pessoas que usam a mente; poucas aquelas que usam o coração; únicas aquelas que usam ambos.” — Rita Levi-Montalcini, neurocientista italiana e Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina (1986).