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Membros da SBOC chamam a atenção para a qualidade do tratamento oncológico público no país

Notícias Terça, 16 Agosto 2016 09:00

Oncologistas membros da SBOC publicaram, em julho, um importante artigo no Journal of Global Oncology, periódico de prestígio na área. No trabalho, eles demonstram numa análise detalhada como a falta de acesso ao medicamento trastuzumabe para tratamento do câncer de mama metastático HER2-positivo no SUS tem como resultado o aumento do número de mortes precoces das pacientes que apresentam a doença. “A introdução de trastuzumabe e pertuzumabe (no sistema público) aumentaria significativamente o tempo de vida de mulheres com câncer de mama metastático HER2-positivo no Brasil, evitando 768 mortes prematuras nos próximos dois anos", afirmam.  Veja os dados completos do artigo no infográfico.

O objetivo dos oncologistas foi chamar a atenção para a necessidade de discutir não só a situação do trastuzumabe, mas a qualidade do tratamento oncológico oferecido pelo sistema público no Brasil de modo geral. “O fato de não disponibilizar um medicamento como este ou a demora para aprovar sua inclusão tem consequências que podemos medir em número de vidas perdidas. Esse é um problema que temos de discutir”, afirma o oncologista Dr. Carlos Barrios, um dos autores do artigo. Segundo ele, quando somente um país não oferece um medicamento que todo o mundo adotou há muitos anos, o processo decisório precisa ser revisado. “Os pacientes, a sociedade civil, as sociedades médicas, os técnicos responsáveis pela aprovação dos medicamentos, o governo e a indústria farmacêutica devem parar de acusar uns aos outros e abrir um diálogo para encontrar uma solução”, avalia.

O oncologista Dr. Carlos Sampaio que também assina o texto, lembra que as limitações no tratamento oncológico no sistema público existem em todas as etapas: desde as dificuldades para acesso rápido e qualificado ao diagnóstico, a oferta de radioterapia até a demora no agendamento de cirurgias, além da falta de terapias como o trastuzumabe, aprovado para tratamento do câncer de mama metastático HER2-positivo há 15 anos e incluído na lista de medicamentos prioritários da Organização Mundial da Saúde (OMS) no ano passado. “Quanto vale a vida de um paciente com câncer? Quanto nós, como sociedade brasileira, estamos dispostos a pagar? Essa é a pergunta que precisamos responder”, afirma Dr. Sampaio, que lembra que no Brasil 75% dos pacientes com câncer são atendidos pelo SUS.

Para o oncologista Dr. Gilberto Amorim, membro da Comissão de Ética da SBOC e um dos autores do artigo, somente a questão econômica não explica a demora na liberação de terapias contra o câncer no país. “As terapias modernas contra o câncer são caras, mas falta vontade política para enfrentar o problema. O Brasil consegue oferecer tratamento de ponta para outras doenças, como a Aids, por exemplo”, observa. Segundo ele, parcerias público-privadas poderiam garantir a transferência de tecnologia e o barateamento da produção. “Não podemos mais demorar oito anos - como aconteceu com a aprovação do trastuzumabe para tratamento adjuvante - para liberar um medicamento”, completa. De acordo com o especialista, entre 2005, quando a terapia foi aprovada mundialmente para tratamento adjuvante, e 2012 - ano anterior a sua incorporação pelo SUS para esta indicação - estima-se que aproximadamente 5 mil pacientes morreram no Brasil pela falta do medicamento.

Confira o infográfico com os dados.

INFOGRAFICO CANCER 10.08.2016

Última modificação em Quarta, 15 Março 2017 15:12

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