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Quase um terço dos oncologistas clínicos brasileiros estão em SP

Notícias Segunda, 30 Julho 2018 20:16

Dos 3.583 oncologistas clínicos que atuam no Brasil, 1.037 estão em São Paulo, o que corresponde a 28,9%. O Estado é o único com quantidade desses especialistas em quatro dígitos. Os mais representativos na sequência são Rio Grande do Sul (335), Minas Gerais (285), Rio de Janeiro (270) e Paraná (264). A concentração no Sudeste também é marcante: 46,5%, seguida da região Sul, com 21,5%. Os dados são do estudo Demografia Médica 2018, do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Faculdade de Medicina da USP.

Na outra ponta, há quatro Estados com menos de 20 oncologistas clínicos: Roraima (5), Acre (6), Amapá (10) e Tocantins (16). A distribuição percentual nas outras três regiões do Brasil é: Nordeste, com 18,3%; Centro-Oeste, 9,5%; e Norte, 4,2%

Considerando a concentração da população brasileira, há diferenças significativas. São Paulo tem 21,8% dos habitantes do país (contra 28,9% dos oncologistas clínicos); o Sudeste corresponde a 42% (contra 46,5%). Sul e Nordeste estão em situações opostas. Enquanto o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná somam 14,2% dos habitantes, concentram 21,5% dos oncologistas. Já os noves Estados do Nordeste têm 27,2% da população e somente 18,3% dos especialistas.

Nesta comparação, Norte e Centro-Oeste aparecem em posições invertidas: o primeiro tem mais habitantes (8,71%) e menos oncologistas (4,2%) frente ao segundo com uma população menor (7,71%) e mais que o dobro de médicos especialistas em Oncologia Clínica (9,5%).

Análise

“A desigualdade na distribuição dos oncologistas clínicos reflete a gritante divisão socieconômica que temos em nosso país”, avalia o Dr. Sergio D. Simon, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). “Embora a maior parte da população brasileira esteja realmente no eixo Sul/Sudeste, a presença de oncologistas clínicos no Nordeste, no Norte e mesmo no Centro-Oeste está muito aquém do necessário para o diagnóstico e o tratamento dos pacientes com câncer”, constata.

De acordo com o presidente da SBOC, não há justificativa do ponto de vista epidemiológico para essa discrepância, pois o número de pacientes que deveriam ser diagnosticados e tratados tende a ser uniforme em relação ao total da população em todas as regiões. “Significa que muitos brasileiros morrem de câncer sem sequer saber que têm a doença, além dos que a descobrem e não têm nenhum especialista para tentar qualquer tipo de tratamento ou promover os cuidados corretos para o manejo da dor e dos demais sintomas”, completa o Dr. Sergio D. Simon.

Oncologista sozinho não trata

A Dra. Clarissa Baldotto, secretária de Comunicação da SBOC, lembra que o exercício da Oncologia Clínica depende de uma estrutura para o diagnóstico da neoplasia e o tratamento completo do paciente. Dependendo do caso, além dos medicamentos oncológicos, são necessários recursos como métodos de diagnóstico por imagem, equipe de anatomia patológica, exames específicos, cirurgias realizadas por médicos especializados em oncologia, radiologia intervencionista, radioterapia e testes moleculares, por exemplo.

“É uma especialidade dependente desses serviços e desses outros médicos, sem falar nos cuidados de outros profissionais como nutricionistas e psicólogos”, reforça a oncologista. Claro que, como em qualquer especialidade, estar em cidades menores, com remuneração mais baixa e poucos incentivos para o desenvolvimento da carreira são também fatores de desmotivação para que os oncologistas clínicos optem por atuar longe dos centros de referência”, pondera. “Mas, especificamente na Oncologia Clínica, se não há uma estrutura mínima de atendimento para o paciente oncológico, é simplesmente impossível trabalhar”, relata.

A própria Dra. Clarissa Baldotto possou por essa situação. Natural de Alegre, cidade de 30 mil habitantes no Espírito Santo, foi para o Rio de Janeiro fazer medicina e depois as residências em Clínica Médica e Oncologia Clínica. Uma vez concluída sua formação como especialista, não haveria condições de voltar. “Ainda que optasse por retornar, seria complicado exercer a oncologia clínica na minha cidade.”

Em uma das considerações do estudo Demografia Médica 2018, os autores afirmam que “o crescimento do número de médicos no Brasil repousa sobre uma ambiguidade: políticas indutoras de formação de médicos e especialistas foram seguidas de desfinanciamento público e de movimentos de desregulamentação e incentivos ao mercado de planos e seguros de saúde privados”. Eles acreditam que esse aumento expõe, portanto, a necessidade não só de superação dos desequilíbrios de formação, funcionais e territoriais, mas também de definição dos rumos do sistema de saúde no Brasil, que repercutirão no futuro da Medicina e no bem-estar da população”.

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